sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Resenha Crítica


Obrigado por Fumar

Em uma sociedade puramente capitalista alguns homens desafiam o senso comum defendendo produtos que atacam diretamente os indivíduos que se permitiram ser comprados por um jogo de ideologia onde o objetivo é vender independente de quem seja o comprador, mas de preferência que o cliente esteja despreparado para refletir sobre a importância e qualidade do produto em questão. É assim com vários produtos que são vendidos ao redor do mundo por empresas gigantescas que investem em vendedores eficientes com o poder de manobrar uma negociação a ponto de que no momento da compra o cliente se esqueça de alguns detalhes importantes sobre o produto.

Obrigado por Fumar traz em suas cenas dirigidas por Jason Reitman uma história criada a partir de um livro com o mesmo título escrito por Christopher Buckley que sintetiza o que já se sabe sobre os defensores de marcas e produtos que prejudicam a saúde dos indivíduos que as consomem. Esses homens contam somente com o quanto o cliente pode contribuir para seu faturamento.

No filme, Nick Naylor é um intermediário, termo criado por ele para designar a pessoa que tem a função de amenizar o discurso de seu produto, o tabaco, com a comunidade que não ver seus produtos com bons olhos. O personagem é divorciado, tem um filho e passa para seu filho o que considera uma arte, a de conseguir modificar o discurso do próximo usando argumentos coesos, precisos que impressionam e por isso modificam o jeito de pensar do seu interlocutor.

A carreira de Naylor caminha muito bem ele é convidado a conhecer o mais rico empresário do seu ramo depois de apresentar uma proposta em que seria usado o cinema como meio de divulgação e apoio as indústrias de tabaco.

Em um dado momento em ele se envolve com uma repórter que trabalha para um jornal de grande circulação no país. Por interesse ela arranca detalhes importantes e segredos na cama - afinal de contas o Nick Naylor também falha – e constrói uma reportagem com detalhes minuciosos envolvendo toda uma rede de jogos e ideologias que não poderiam ser facilmente descobertos pelos cidadãos comuns. O intermediário tem sua carreira posta de pés para o ar e despenca, caindo no gosto de todos que o tinham como um ícone na arte de ”enganar”. Paralelo a esses acontecimentos, ainda trabalhando na empresa, Nick comumente entra em discussão pública com um senador que vai de encontro com todas as suas ideologias. É marcado um debate com um cunho de julgamento entre os dois: Nick defendendo a maior produção de tabaco da Terra e o senador acusando as organizações defendidas por Naylor de ferir e matar o maior número de norte-americanos no ano, sendo o tabaco sucedido por acidentes e disparos com armas de fogo e mortes causadas pelo uso excessivo de álcool. (Vale lembrar que os únicos amigos que Naylor tinha eram justamente os intermediários responsáveis por defender o Álcool e as Armas). O debate é marcado na semana em que N. Naylor foi demitido. Com acusações pesadas pesando sobre sua consciência ele resolve dar a volta por cima na sua “imagem” desafiando o senador mais uma vez com o apoio de toda a mídia que a todo o momento se mostra sensacionalista. No embate senador e intermediário trocam acusações ate que o senador pergunta a Naylor se ele venderia uma carteira de cigarros ao seu filho que tem cerca de onze anos de idade, Nick para, pensa e diz: - Não poderia pois a lei não me permite, Ele é menor de idade. Entendendo a sarcasidade do comentário o senador questiona se quando o filho de Naylor estivesse com dezoito anos, se ele teria a coragem de comprar a primeira carteira de cigarro para seu filho. Ele mais uma vez pensa e diz que sim. Mas só se o garoto tivesse mesmo vontade de fazer uso do cigarro.

Esse trecho do filme faz refletir sobre um dado importante, embora os produtos estejam sendo vendidos, praticamente somos obrigados a fazer uso desses maus e bons produtos, muitas vezes temos a chance de fazer escolhas e de vez em quando privar-nos do uso de alguns produtos, mesmo parecendo que não, a escolha por não comprar tem um grande poder modificador da realidade.

Pode-se dizer que a mensagem do filme esteja focada no fato de que o capitalismo comercial, o qual fortalecemos mais a cada dia que passa, deve ter alguns defensores, algumas pessoas preparadas para vender em qualquer circunstância e nesse contexto é que se encontra Nick Naylor. Não deve ser questionada a qualidade do vendedor e sim a capacidade do comprador em distinguir o que é bom e proveitoso para ele, do que não é. A sociedade precisa de um pouco mais de cidadãos críticos e conscientes de seus deveres quanto agentes transformadores e formadores da própria sociedade.

Nenhum comentário:

Seguidores